LIBERTE-SE, PRESIDENTE! - LUZIA MONIZ



"  Entretanto,  a vida dos angolanos foi-se deteriorando : crianças brigando por lixo em contentores para se alimentarem, milhões fora do sistema de ensino, assistência médica deficitária,  Polícia cada vez mais repressiva, criminalidade a crescer de forma galopante, tensão política visível e perigosa,  causando instabilidade política,  Paz podre, enquanto do Palácio saem brigadas digitais e outras encarregadas de disseminar o terror. 


Liberte-se, Sr. Presidente! 


De extremistas que o rodeiam, dos que, vendo o País a arder, continuam a aconselhá-lo a não dialogar com angolanos com projectos políticos diferentes dos seus. Dialogue por Angola, sem mise-en-scéne.




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Liberte-se dos intolerantes políticos que já rodeavam o seu antecessor. Os tais que queriam pelo menos 10 réplicas de José Eduardo dos Santos e outras tantas de Isabel,  a do 'Luanda Leaks'. Oiça vozes livres, usando o 'PIN e o PUK' da Paz que tem em mãos,  parafraseando Dom Manuel Imbamba. Vozes de adyakimi, de zungueiras, daqueles que não correm atrás de lugares nem de favores políticos. Oiça vozes discordantes, muitas das quais muito corajosas, e não se deixe aprisionar por cararatas no cérebro.  E liberte os capturados instrumentos de controlo do exercício do Poder, nomeadamente a Comunicação Social,  a Justiça e o Parlamento. 


Liberte-se também da narrativa negacionista que relativiza dramas sociais que atingem o País inteiro,  porque os famintos não têm cartão,  nem sindicatos.  Siga exemplos como o do seu último visitante,  o Chefe de Estado de Cabo Verde, para quem o Presidente deve ter ' serenidade e elevação de espírito para ouvir as críticas, e, com humildade,  aprender com os erros, sem se deixar levar pelos extremismos e populismos'. Liberte a linguagem política,  afastando-se das inverdades, assumindo os erros e os acertos, porque a propaganda é efémera e o legado é perpétuo. 


Liberte-se ainda de antigos bajus, aqueles que já o eram antes da sua chegada ao Palácio, dos neobajus que, ostracizados por Dos Santos, surgem hoje na pole position da bajulação à espera de figurarem em listas de deputados,  de um lugar no Governo ou outras instituições do Estado,  em busca de benesses materiais e patrimoniais que a bajulação proporciona. Ademais, liberte a Polícia e as Forças Armadas, tornando-as verdadeiramente republicanas para cumprirem cabalmente com as suas funções de garante da segurança pública,  da lei e da ordem e da defesa da soberania nacional. 


Liberte-se de braços esquerdos, direitos ou ambidestros, cuja reputação é chacota nos corredores do Poder e medias mundiais, pelo seu envolvimento em falcatruas e actos de corrupção. Liberte-se com urgência,  do medo de partilhar o Poder, fazendo cumprir a Constituição com a realização de eleições autárquicas e descentralização do Poder. 


Liberte a imagem do País criada por oportunistas que nas embaixadas fazem da perseguição a personalidades da Diáspora a sua principal acção (eu própria tenho sido uma das visadas). Imagine, Presidente,  até ensaiaram pedir a ilegalização de uma ONG que lidero. Faça da transparência regra e da opacidade na gestão da coisa pública o inimigo número um, dando passos para a despartidarização da função pública. 


Mas Presidente,  não se esqueça de pôr ordem no seu partido. Trabalhe pelo País e avise aos seus camaradas que devem colocar a Pátria à frente do partido,  a Paz à frente de suas efémeras glórias. Como historiador, alerte-os para a falta de cultura e consciência histórica,  contando-lhes que, fruto do nosso processo e idiossincrasia políticos, muitos patriotas e nacionalistas angolanos tiveram passaportes de outras nacionalidades, como forma de desenvolverem as suas acções políticas. Diga-lhes, por exemplo, que Agostinho Neto teve passaportes marroquino,  congolês,  etc.., mas isso não o impediu de proclamar o feito maior da História recente de Angola: a Independência Nacional,  e tornar-se no primeiro Presidente do País.


Salve o País,  conjugando o mais belo verbo do humanismo: dialogar. Mesmo que isso signifique desagradar a alguns membros do seu partido. 


Presidente,  liberte-se, porque não há Poder mais valioso que a Liberdade. 


Luzia Moniz,  na coluna Tunda Mu Njila, da edição 720 do Novo Jornal de 28.01.2022.  



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